Outro dia, em um evento de mulheres empreendedoras, dividi um dos momentos mais difíceis da minha vida: o enfrentamento da síndrome de burnout. Comigo, estava uma psicóloga, e eu me encantei com a fala dela. Verdadeira, direta e afetiva. Ela teve os sintomas, o corpo parou e ela precisou dar jeito na vida e fazer as escolhas certas para o burnout nunca mais chegar. 

Convidei-a para falar aqui sobre essa síndrome em que o Brasil é o segundo país com mais casos no mundo. Com vocês, Renata Gonçalves Costa, psicóloga pós-graduada em constelações sistêmicas, 20 anos de experiência, sendo 16 em grandes empresas.

O QUE É BURNOUT 

“A síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional atinge milhares de profissionais. Em janeiro de 2022, a OMS reconheceu esta síndrome como doença e, assim, passamos a trabalhar de forma mais séria e com dados estatísticos que vão auxiliar na identificação de casos, tratamento e prevenção.”

BRASIL NO RANKING 

“O Brasil já é o segundo país com mais casos de burnout no mundo, conforme dados de setembro de 2022 da International Stress Management Association. Trata-se do adoecimento proveniente do ambiente profissional devido a excesso de trabalho (tarefas em si, horas trabalhadas), pressão por resultados e falhas na comunicação entre líderes e liderados, o que acentua o isolamento e a não identificação de sintomas ou amenização dos mesmos.”

COMO COMEÇA 

“Muitos profissionais já possuem perfil com autocrítica e autoexigência muito elevada. Quando encontram ambientes profissionais, pessoas que reforçam estes traços de personalidade, somadas a cenários de alta competitividade e cobrança, ficam mais vulneráveis diante deste adoecimento. Muitos demoram a ter o diagnóstico, pois não consideram a saúde mental, e sua saúde integral, confundido os sintomas com cansaço do dia a dia. Isto dificulta o tratamento e a prevenção, bem como reforça o preconceito com o tema, ainda existente nos dias atuais.”

FIQUE ATENTO 

“Uma das armadilhas é considerar que é um sintoma pontual, porém, fique atento se estiver com alguns dos sintomas (listados no quadro ao lado) persistindo há mais de 15 dias e não identificar situações pontuais que possam estar interferindo no dia a dia. Se não tratado a tempo, o burnout pode evoluir para um quadro de depressão profunda. Buscar apoio psicológico e psiquiátrico é fundamental para o devido diagnóstico, tratamento e prevenção, além da reorganização da rotina como um todo.”

Chance de se reinventar. Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal

REDESENHAR

“Minha fala é como profissional da área de saúde mental e como alguém que já teve diagnóstico de burnout. Sempre amei apoiar a todos e, por um período, acabei me deixando para depois – estava profissional, mãe, filha, irmã, esposa, amiga. Porém, desconectada de mim. Meu corpo acabou me parando, a tempo de retomar a conexão comigo. Fiz uma ‘parada técnica’ forçada e, após reaprender a descansar e cuidar de mim, redesenhei minha rota, com muita gratidão a tudo e a todos que sempre fizeram parte da minha vida e que me fizeram forte. A vida é fluir!”

Fique atento ao Burnout

Principais sintomas 

1) Sentimento de incapacidade constante de dar conta das tarefas e negativismo

2) Mal estar físico: sintomas gastrointestinais, alteração de apetite, alterações na qualidade do sono, dores no peito e dores cabeça, dores musculares, pressão alta, entre outros

3) Alterações no foco e concentração, bem como na memória, incluindo assuntos cotidianos

4) Alterações de humor constantes e repentinas

5) Fadiga excessiva e constante

6) Sentimento de insegurança e falta de esperança no futuro

Vamos tentar prevenir?

1) Psicoterapia com psicólogo e avaliação clínica médica

2) Autoconhecimento é fundamental: saber nossos limites, conseguir dizer “não” e pedir apoio é essencial

3) Cuidar da saúde como um todo: check-ups constantes nos mantêm conectados a nós mesmos – física e emocionalmente

4) Tenha rede de apoio: tenha pessoas de confiança com quem conversar, quem o escute de verdade. Neste item, é fundamental ter pessoas de relacionamento pessoal (amigos, família) e profissional (psicólogo, médico, colegas de trabalho)

5) Saber conectar o que está sentindo com o que está acontecendo de fato é fundamental, ou seja, perguntar-se se a emoção condiz com sua realidade

6) Reorganização da rotina: atividades físicas, agenda/bloco de notas ou o que for necessário para apoio nas tarefas diárias

7) Atividades de lazer e períodos regulares de descanso são fundamentais – situações pontuais de trabalho extra são pontuais. Seu descanso é prioridade, sua saúde é prioridade

8) Procure equilibrar as áreas da sua vida: pessoal, amorosa, espiritual, profissional, intelectual (aprenda coisas novas), familiar

9) Tenha objetivos de vida, pequenos objetivos e comemore cada conquista – faça o que faz sentido para você

10) A conscientização de empresários para que colaborem com ambientes mais saudáveis de trabalho, o que também vai gerar maior engajamento e, por consequência, resultados e lucratividade: ou seja, todos ganham

Fonte: psicóloga Renata Gonçalves Costa