Depois de um dia exaustivo de gravações, preparei um mate e sentei para escrever essa coluna. Deixei a televisão num volume agradável e me concentrei para iniciar o texto. Foi nesse momento que ouvi a notícia: homem mata a esposa na frente dos dois filhos, no estado do Paraná. E o apresentador continuou: “Os meninos, de oito e 10 anos, assistiram tudo e pediram repetidamente para o pai parar. Ele não ouviu, e com alguns tiros de arma de fogo, matou a mulher”. 

Em primeiro lugar, perdão por trazer essa tragédia nesse momento que vocês estão lendo. Mas a coluna de hoje é justamente sobre isso. Pegando carona na abertura da Feira do Livro de Porto Alegre, resolvi abrir espaço para uma escritora que reuniu relatos reais e pesados de mulheres vítimas de violência. 

Ela é formada em Letras pela UFSM e, há mais de dez anos, trabalha como escrivã da Polícia Civil. Este ano, lançou seu primeiro livro, contando um pouco do que tem visto e ouvido nesse tempo todo. Com vocês, Marta Azzolin, 47 anos, autora do livro “As Crônicas da Liberdade”. 

Na Feira do Livro. Foto: Arquivo Pessoal

MEU TRABALHO

“Desde que iniciei os atendimentos na delegacia, no registro das ocorrências, tenho visto e ouvido histórias em relação à violência contra as mulheres. Elas chegam desesperadas, amedrontadas, decepcionadas com o comportamento do seu companheiro. Isso me comove muito. Então, vendo que preciso também fazer alguma coisa em minha passagem pelo mundo, decidi trazer à luz essas histórias.”

O LIVRO

“Fiz o livro com o objetivo de munir as meninas adolescentes de informações sobre o comportamento do agressor para que, sabendo do final, elas possam corrigir o começo do relacionamento. Em geral, a mulher não conta o que acontece dentro da sua casa, pois sente vergonha de dizer que o homem que ela escolheu para ser seu companheiro de vida lhe causa tanta dor e sofrimento. Ela ama aquele homem e, muitas vezes, por amor, não tem coragem de abandoná-lo. Ele, por sua vez, sente prazer no sofrimento da mulher, e isso não é amor.”

“Isso me comove muito”, diz escritora. Foto: Arquivo Pessoal

CORAGEM, GURIAS

“Quero, com o livro e com palestras, alertar as meninas para o amor e mostrar que, num relacionamento abusivo ele – o amor – não está presente por parte do agressor. Busco encorajá-las desde cedo a denunciar a violência, seja ela como for, para que, a partir de agora, o silêncio não multiplique mais o comportamento abusivo e machista a que muitas mulheres são subjugadas.”

RECADO AOS MENINOS

“Falo também para os jovens meninos para que, se observam neles esse comportamento, procurem ajuda psicológica. Espero, com isso, que os números da violência diminuam a partir dessa geração que hoje está nos bancos escolares. Meu livro é mais uma ferramenta para o enfrentamento à violência contra a mulher.”

Parabéns, Marta! Virei tua fã. Por dar voz a tantas mulheres e por fazer esse alerta para que mais gurias não sejam vítimas de relações destrutivas. Quem quiser adquirir o livro da Marta pode entrar em contato pelo WhatsApp (55) 99912-1489. 

RECADO DA CRIS 

“Um bom livro não termina, ele se esconde dentro de nós.”