Eu adoro mostrar aqui o relato e as experiências das pessoas. O tema de hoje é inspirado num fato que aconteceu na casa de uma amiga e achei super importante falar dele.
O marido e filho da Débora Roncone, minha amiga de infância, estavam saindo de casa, quando a Alice, filha de 3 aninhos, correu para o quarto para buscar uma espada e dar para o pai.
” Aqui em casa eles têm medo que a gente saia para rua. Esses dias meu marido estava saindo de casa e a Alice deu uma espada para ele matar o coronavírus. Então, a gente percebe que está gerando um certo estresse porque escuta as coisas e não consegue entender, embora eu já tenha explicado e mostrado bastante através de historinhas.”
Certamente mais famílias estão testemunhando atitudes surpreendentes dos pequenos. A pandemia alterou a rotina de todo mundo, inclusive, dos nossos filhos. De uma hora para outra muitas crianças deixaram de ir para escolinha, ficaram trancados em casa, sem poder abraçar ninguém, nem ver os avós e os amiguinhos…é claro que eles sentem que tem algo no ar, e tem mesmo, e é invisível.
Mas acreditem, talvez seja muito mais fácil eles entenderem o que é o coronavírus. Conversei com a psicóloga Marina Gastaud, e apresento agora para vocês dicas valiosas; uma sugestão de exercício para tentar descobrir como as crianças enxergam o vírus e uma historinha que pode tranquilizar os pequenos.
Palavra da especialista
Marina Gastaud
Psicóloga, especialista em psicoterapia psicanalítica, pós-doutora em Psicologia Clínica.
“A gente tem sempre que falar a verdade, eu acho que as crianças percebem o clima de tensão, de angústia e a gente tem que falar a verdade.”
De fato é muito difícil explicar o que é o coronavírus porque ele é um inimigo invisível, só que as crianças, diferentes da gente, estão acostumadas com inimigos invisíveis porque elas têm medo do lobisomem, medo de bruxa, medo de vampiro, enfim, elas têm medo de um monte de coisa que elas não enxergam então, é bem mais fácil para as crianças conseguirem figurar na cabeça delas um inimigo invisível.
A minha primeira sugestão é que os pais perguntem para as crianças o que elas acham que é o coronavírus, eu estou fazendo isso com meus pacientes, pedindo para eles desenharem o vírus e depois falar em palavras o que elas acham que combina com o corona. Em geral, aparecem coisas engraçadas; que ele é monstruoso, que ele é assustador, que ele é chato…eu começaria por aí e depois explicaria de forma lúdica.
A sugestão é uma historinha, que o coronavírus é um bichinho muito, muito pequeno que só dá pra ver com o microscópio e que ele vive dentro das pessoas e que ele passa de uma pessoa para outra através do espirro, da tosse ou se a gente se encosta num lugar que outra pessoa tossiu ou espirrou.
Dizer que é muito mais fácil de proteger do coronavírus do que de outros inimigos porque ele morre com água e sabão, então, é só a gente lavar bem as mãos, passar álcool gel nas mãos e usar máscara.
Acho legal explicar que no corpo de todo mundo têm soldadinhos treinados para combater o coronavírus que o corpo das pessoas mais jovens tem um monte de soldadinhos, mas que o corpo das pessoas mais velhinhas tem soldadinhos mais fraquinhos e, por isso, a gente tem que cuidar mais.
Temos que explicar que os cientistas e os médicos estão trabalhando muito para criar soldadinhos no laboratório e que depois a gente vai poder botar soldadinhos no nosso corpo e criar um exército para combater o coronavírus. Que em breve vai ter uma vacina e que é um jeito de aumentar os soldadinhos do nosso corpo.
Na minha experiência isso acalma bastante as crianças, elas se sentem mais tranquilas.
Eu adorei as dicas, estamos conversando bastante aqui em casa porque acreditamos que a comunicação é a melhor forma de deixar os meninos conscientes da situação atual. Explicar e informar para não dar chance da imaginação deles voar para lados errados, é assim que eu e meu marido pensamos.
Aqui em casa
“Vai ser um processo bem interessantes das crianças dessa geração do medo que eles vão ter dessa ansiedade da contaminação, a gente tem que conversar muito. Aqui em casa a gente conversa muito porque isso não pode virar um preconceito, não pode virar a chave para o bullying, nada disso! A gente precisa ensinar eles a se higienizarem e conviver de uma forma “normal”… é uma nova normalidade e temos a missão de educar as crianças para isso. Por um lado eles vão ter uma higiene muito melhor, isso vai fazer parte da educação deles mas por outro também tem essa questão comportamental psicossocial, não pode abraçar mas é teu amigo, tem que manter um distanciamento mas ele não é um risco, a pessoa não é um monstro por que veio da rua.”
“Ele desenhou a corona, na verdade um coronão porque na visão dele o “bicho é grande”…mas depois ele se desenhou de máscara azul segurando um frasco de álcool em gel e aí eu percebi que ele está bem maior, matando o vírus com o álcool gel…eu achei corajoso, parece um enfrentamento. Conversando ele me disse que o corona representa medo. Enfim, acho que para o Armando, o bicho está aí, é grande, dá medo, mas ele tem coragem para enfrentá-lo, ou seja, dá medo, mas vamos passar por isso.”
Patricia Cavalheiro, mãe do Armando Cavalheiro Dalmora, 6 anos.
Pérola
Vovó Genilda tentando chamar a atenção de Thiago para ele rezar com ela:
– Tito, venha rezar com a vovó, você não quer ir pro céu?
– Não! Quero ir pro shopping, vó!
(Thiago, 3 anos)
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